domingo

Isabelle Gex, poderosa da perfumaria da Fendi, fala do mercado de luxo e das brasileiras

A partir de Veja.com
Luís Guilherme Barrucho

Para muitas mulheres, a francesa Isabelle Gex tem o emprego dos sonhos. Vive cercada de bolsas e perfumes, tem lugar cativo na primeira fila dos grandes eventos de moda e trata com intimidade estilistas e supermodelos. Ela é mais alta executiva da Parfum Luxe International, braço do conglomerado de luxo LVMH responsável por administrar os perfumes das grifes italianas Fendi e Emilio Pucci. Ela também já trabalhou na Givenchy e na Chanel. No Brasil para o lançamento mundial da nova fragrância da Fendi, Isabelle falou à VEJA.com sobre a indústria do luxo e os planos da marca para o país.


Qual é o significado do luxo hoje em dia?
Para mim, o luxo pode ser entendido como algo exclusivo, que une qualidade a um ponto de vista. Para entender melhor essa definição, proponho analisar o mercado. Em termos de público-alvo, marcas como Fendi, Gucci e Louis Vuitton concorrem entre si. Mas elas se distanciam quando o assunto é sua identidade. Cada marca tem seu ponto de vista, ou seja, encara o luxo de maneira diferente.

Qual seria, então, o ponto de vista da Fendi?
Em primeiro lugar, utilizamos matéria-prima de melhor qualidade, incluindo peles e couros. Mas a razão de nosso sucesso é, sem dúvida, nossa personalidade arrojada, que vem desde quando éramos uma pequena loja no centro de Roma. Gostamos de surpreender nossos clientes de modo que eles ousem em suas escolhas. Quando reabrimos nossa loja em Paris, em 2008, por exemplo, chamamos a cantora inglesa Amy Winehouse para uma performance ao vivo. À primeira vista, Amy é uma daquelas mulheres que nada têm a ver com a alta costura e causam repulsa em qualquer fashionista. Entretanto, tivemos um retorno maravilhoso porque conseguimos causar reações inesperadas em nossos clientes. Esse é nosso DNA.

A Fendi interrompeu a fabricação de perfumes. Por que retomá-la?
Foi uma decisão difícil. Do ponto de vista conceitual, nossa última fragrância, Fendi Palazzo, remetia ao mais profundo DNA de nossa marca. Era uma espécie de homenagem às nossas origens romanas e aristocráticas. Mas, infelizmente, o perfume não caiu nas graças do público e suas vendas foram aquém das nossas expectativas. Decidimos, então, repensar seu conceito. Minha contribuição foi subverter a ideia de que a fragrância estivesse associada diretamente à nobreza europeia, hoje conservadora e decadente. A Fendi, pelo contrário, é uma marca que sabe ousar, explorar novas fronteiras e ter um espírito global sem deixar de lado suas tradições. Por isso, se antigamente ficávamos restritos à Europa, ao Japão e aos Estados Unidos, hoje queremos investir em países fora desse eixo.

Qual é sua avaliação sobre o consumo do luxo pelos emergentes?
Ainda há muito espaço para crescer. Mas não podemos ter uma visão única sobre os emergentes. Muitos deles ainda são pobres e estão batalhando por conquistas econômicas. Nesses países, a compra de um artigo de luxo significa a possibilidade de ascensão social. Ainda que o Brasil seja uma nação em desenvolvimento, já está em um outro patamar. Por isso o escolhemos para lançar a nova fragrância juntamente com outros países da Europa.

O que motivou essa decisão?
O Brasil tem um amplo e crescente mercado consumidor. Além disso, as brasileiras cultuam bastante o corpo e estão em dia com as tendências globais de beleza. Para nós, o Brasil emergiu como o país mais promissor da América Latina. Ele faz parte do BRIC (formado por Brasil, Rússia, Índia e China), tem um poder aquisitivo em ascensão e é uma janela para o resto do continente. Isso sem contar sua singularidade na arquitetura, moda e estilo.


O que as brasileiras representam para a Fendi?
Quando estive pela primeira vez no Brasil, fiquei impressionada com a quantidade de mulheres bonitas. As brasileiras têm um dom natural do que fazer para se sentir belas e como aperfeiçoar sua beleza, ainda que não tenham tanto dinheiro como as europeias. Elas gostam de acompanhar as últimas tendências da moda, preferem roupas que lhes confiram funcionalidade e são menos conservadoras do que as americanas. São mulheres poderosas e que adoram festejar. Talvez sejam as mais alegres do mundo. Precisamos nos adaptar a esse público, como ao de outros países.

Falando desse espírito global, quando a senhora trabalhava para a Givenchy, escolheu a atriz Liv Tyler como a garota propaganda da marca. Quem será o rosto desse novo perfume?
Cada perfume tem a sua identidade. Para a Fendi, não precisamos de uma celebridade que represente o espírito da marca. Seria necessário alguém que conjugasse luxúria e elegância. Dificilmente, encontraríamos quem reunisse esses dois predicados. Em nossas lojas, por exemplo, os clientes podem encontrar desde peças clássicas, como as tradicionais bolsas Peek-A-Boo, até aquelas feitas com peles de animais selvagens ou tingidas com cores berrantes. A Fendi é, essencialmente, uma grife voltada às mulheres. Mas não podemos focar nossos negócios em apenas um tipo de mulher.

A senhora mencionou o uso de peles. Este é um tema polêmico, que tem despertado a ira dos ambientalistas e de entidades em defesa dos animais. Não seria hora de deixar de produzi-los?
Definitivamente, esse é um assunto controverso. A Fendi preocupa-se com o bem estar dos animais. Hoje é possível fabricar peles sem lançar mão de práticas criminosas. Costumo perguntar aos que nos atacam com tamanha agressividade de que material é feito seus sapatos. A maior parte deles é de couro, que precisa ser retirado de um animal, cuja carne, muitas vezes, é desperdiçada. Não acho, portanto, que devemos parar de trabalhar com peles, desde que tomemos todas as medidas necessárias à proteção dos bichos.

Algumas grifes optaram por estender seus negócios para além dos perfumes, como cosméticos. Há algum plano em andamento?
Por enquanto, não. Mas no mercado de luxo nada pode ser descartado. Recentemente, percebemos uma febre por esmaltes. Não sei quando vamos produzi-los, mas sempre pensamos em estratégias para atingir novos mercados e diversificar nossos negócios.

Como a senhora vê a pirataria?
Temos de combatê-la com todas as forças. É uma batalha injusta, porque estamos em menor número e nem sempre conseguimos interceptar todos aqueles que colocam em perigo o que construímos em mais de cem anos de história. A pirataria não causa apenas prejuízos à marca, mas ao consumidor. Nossas bolsas são reconhecidas pelo desenho e pelo material de alta qualidade. Portanto, quem compra uma bolsa Fendi falsificada, está jogando dinheiro no lixo. Precisamos dessa conscientização se quisermos vencer esta luta.

Nenhum comentário: